Atualmente falar sobre cinema e seus variados gêneros e subgêneros tornou-se uma questão particular voltada a gostos e interesses. Na última década os blockbusters tomaram conta das telas de cinema e tornaram-se o gênero dominante do entretenimento, com isso, filmes de super-heróis, universos pós apocalÃpticos, ficções cientificas e adaptações literárias tomaram de conta e fizeram a receita hollywoodiana ultrapassar a barreira dos bilhões. Contudo, alguns cinéfilos ainda se perguntavam, onde está o cinema em sua forma mais expressiva e cultuada? Renomados diretores e produtores torceram o nariz e questionaram o novo gosto do publico e exigiam a reimaginação de Hollywood para o que realmente é cinema e não apenas o entretenimento voltado para o lucro dos grandes estúdios.
Em meio aos questionamentos de nomes famosos como Martin Scorsese e James Cameron, alguns nomes surgiram no decorrer da década e mostraram audácia e entendimento sobre o que pode ser considerado o cinema cultuado, bem como unificaram qualidade e originalidade à busca e aceitação do publico alvo atual. Neste novo contexto, Denis Villeneuve foi quem mais se destacou, assim como Cristopher Nolan já havia se destacado na primeira década dos anos 2000. Contudo, alguns cineastas buscavam sua redenção, e foi neste ponto que o ambicioso George Miller buscava sua reinvenção. O segredo, estava em uma nova empreitada em sua famosa saga da década de 70, que por anos ficou congelada e imortalizada na mente do publico mais cativo, e em 2015 Miller apresentava ao publico dos anos 2000 o que é cinema da forma mais espetacular possivel com o aclamado Mad Max – Estrada da Fúria.
Mas estamos falando de Hollywood, onde o céu não é o limite, onde tudo pode acontecer, onde uma jovem audaciosa pode dominar uma história de guerra com uma estrela em ascensão à frente e ainda manter o legado deixado outrora por uma consagrada estrela do cinema. E é neste contexto que a nova empreitada do mestre do deserto George Miller entra sem pedir licença e sem limites para a audácia, Furiosa – Uma Saga Mad Max, é tudo aquilo que Miller desejou, o primeiro preludio da aventura por apocalÃptica iniciada lá nos anos 70, nos leva a algumas décadas antes da narrativa de Estrada da Fúria, apresentando a impetuosa Furiosa, personagem antes vivida pela magnifica Charlize Theron e agora personificada pela estrela Anya Taylor-Joy.
A narrativa do novo longa, segue a protagonista o crescimento de Furiosa em meio a um futuro pós apocalÃptico, onde a água foi escassa e gasolina se tornou a maior moeda de troca para aqueles que ainda restam. Tirada de seu lar pela gangue de motoqueiros liderada pelo bárbaro Dementus, ainda criança, esta destemida garota aceita a proposta do temÃvel Immortan Joe e em uma luta individual e audaciosa sedenta por vingança, ela se torna uma guerreira formidável e impiedosa que vai transformar os planos de domÃnio de Dementus em um verdadeiro caos e se transformar na formidável Imperatriz Furiosa.
O que torna essa nova empreitada um épico de guerra comparável ao seu antecessor é a audácia com que Miller constrói seu universo distópico, seja no uso de efeitos práticos ou na impecável fotografia desértica e nas cores pastel utilizadas, Miller mantem o tom apocalÃptico e por vezes cruel na construção de seus cenários e locações, fazendo com que o publico muitas vezes imagine como seria está dentro de um deserto e sentir na sala do cinema o calor que as cenas permeiam. Um outro ponto muito importante está na construção do roteiro e personagens, afinal são os detalhes utilizados pela produção que assemelham Anya Taylor-Joy a Charlize Theron e faz com que o espectador se afeiçoe pela personagem sem questionar a troca de atrizes.
E por falar na exuberância da performance de Taylor-Joy, é ela quem entrega tudo em cena, com menos de 30 linha de diálogo, são as expressões da atriz que dominam o filme, seja ela com raiva, sentindo dores, lutando ou até tendo seu braço dilacerado em determinada cena, a aclamada artista, considerada hoje uma das melhores da atualidade não deixa a desejas em momento algum, a garota de aparência frágil, de corpo pequeno, toma proporções únicas e apresenta toda ousadia e determinação, provando que os grandes produtores de Hollywood não estão enganados ao seu respeito e que o merecimento por toda aclamação é mérito pessoal da jovem artista de 28 anos.
Outro rosto consagrado do cinema que também merece reconhecimento por sua determinação é o australiano Chris Hemsworth, conhecido pelo grande publico por dar vida ao herói nórdico Thor no universo Marvel, o galã exala ousadia na pele do vilão Dementus, cheio de trejeitos, o personagem segue uma linha nunca vista antes nos filmes da Saga Mad Max e ganha o publico pela originalidade e dedicação do ator. Afinal, mesmo que o maior desejo do espectador seja que Furiosa dê o devido desfecho ao cruel vilão, o público ainda se afeiçoa pelo personagem e até lamenta seu destino inevitável.
Ainda que Furiosa – Uma Saga Mad Max, não seja 100% arrebatador quanto Estrada da Fúria, podemos dizer que o longa é épico e revolucionário, falta talvez o senso de esperança que a própria Furiosa associa sua jornada no longa de 2015. Contudo, este novo longa foca em sua vingança e em seu amadurecimento forçado em um mundo dominado por personas que visam o poder, todavia, mesmo que brilhantemente desenvolvida, a personagem carece um pouco de alma o que deixa o filme um degrau abaixo de sua inspiração.
Mas Miller prova mais uma vez o que é cinema, o que é um filme cultuado e como transformá-lo numa ascensão, fugindo dos padrões básicos da Hollywood atual, o cineasta veterano mostra ao publico que ainda é possivel cria a junção entre qualidade, entretenimento e originalidade e ainda transformar o longa metragem em um blockbuster estrelado por grandes nomes em evidência. Miller segue os passos de Nolan e Villeneuve mantendo seu legado e apresentado a uma nova geração uma Saga atemporal e inesquecÃvel como Mad Max.