Estaríamos nós vivendo uma nova era de um dos gêneros mais adorados do cinema? No decorrer dos anos 2000 nos deparamos com uma drástica queda na qualidade das comedias românticas, que passam a ser vistas pelo público como filmes clichês e desnecessários para a cultura, fazendo com que filmes deste gênero fossem esquecidos e jogados para lançamentos em pequeno circuito nos cinemas ou até mesmo lançamentos diretos em streamings.
Contudo, a chamadas romcoms que se tornaram verdadeiros fenômenos durante as décadas de 80 e 90 que pareciam está perdidas em meio a blockbusters cheio de efeitos especiais e filmes de super-heróis encontrou um novo folego no último ano. Filmes como os divertidos e despretensiosos “Que Horas eu te Pego” e “Todos, Menos Você”, deram ao publico uma nova visão de como se fazer uma comedia romântica e que mesmo que exista o famoso clichê, do felizes para sempre no final ou a redenção de um dos protagonistas, esse gênero não morreu e ainda possui publico e gás o suficiente para entreter e alegrar aqueles fãs de cinema que buscam algo mais simples e vão ao cinema pelo entretenimento.
O sucesso das comedias românticas começou nos primórdios do cinema, tendo alcançado um publico cativo através dos tempos. A maior intenção das romcoms possuem em seu objetivo apresentar ao publico historias de amor que levam seus protagonistas a situações peculiares que os colocam frente a frente com adversidades que precisam ser vividas e superadas por ambos, com uma premissa quase sempre idealista, estes longas tendem a apresentar uma mocinha destemida, cheia de autonomia que em varias ocasiões se depara com um homem algumas vezes imaturo e/ou que precisa entender que o amor pode ser vivido de todas as maneiras possíveis.
No decorrer da história do cinema, clássicos como Bonequinha de Luxo, Grease e Nos Embalos de Sábado a Noite tornaram pilares para o grande auge das comedias românticas nos anos 80, fazendo deste gênero o favorito dos jovens adultos, marcando geração com filmes como “A Garota de Rosa Shocking”, “Gatinhas e Gatões” e “Clube dos Cinco”, longas que idealizam o poder dos desajustados perante a uma sociedade padronizada, onde os excluídos poderiam também encontrar e viver suas histórias de amor.
A premissa estabelecida nos anos 80, seguiu-se na década seguinte com sucessos como “Uma Linda Mulher”, “Ela é Demais”, “Enquanto Você Dormia”, e o clássico “Um Lugar Chamado Nothing Hill”. Quem nunca imaginou entrar em uma livraria e encontrar o amor da sua vida ou ter um galã como Richard Gere subindo uma escada para declarar todo seu amor? Considerado a melhor década para as comedias românticas, os anos 90 ficou marcado pela simplicidade em falar de amor, na redenção do cinema aos clichês e ao sentimentalismo, essa fase do cinema foi marcada por canções espetaculares, como a icônica “Pretty Woman”, que mostra o auge da estrela Julia Roberts andando pelas ruas de Los Angeles, ou o coro de “I Say A Little Prayer” no almoço de ensaio do casamento de Cameron Diaz em “O Casamento do Meu Melhor Amigo”.
Estrelas como as já citadas Julia Roberts e Cameron Diaz conquistaram seu lugar no cinema e se tornaram ícones quando o assunto são comedias românticas, entre os nomes que figuraram este período e ainda demostram todo potencial nos dias de hoje, podemos citar Sandra Bullock, Drew Barrymore e Kate Hudson. Do lado masculino atores como Hugh Grant, Freddie Prinze Jr e Matt Dillon, são alguns que conquistaram o coração de muitas mulheres mundo a fora.
A virada do século, trouxe novos rumos ao cinema e principalmente à comedias românticas. Os filmes passaram a determinar a independência das mulheres e os homens passaram a se tornar personagens alegóricos, em vários casos, principalmente nos filmes estrelados por Adam Sandler, a história mudava o percurso e o personagem principal não precisava ser o galã da história, mas se apaixonava pela protagonista independente e bela, como por exemplo nos sucessos “Como se Fosse a Primeira Vez” e “Esposa de Mentirinha”.
Mas em time que se está ganhando não se meche, e aí éramos agraciados com romcoms que se tornariam verdadeiros clássicos como “De Repente 30”, “Legalmente Loira”, “Como Perder Um Homem em 10 Dias”, “A Verdade Nua e Crua”, entre outros sucessos que mobilizaram a primeira década dos anos 2000. Neste momento éramos apresentados a estrelas como Reese Witherspoon, Anne Hathaway, Jeniffer Garnner, Katherine Heigl entre outras atrizes que chamaram atenção e conquistaram os corações do público, bem como do lado masculino figurões como Gerard Butler, Asthon Kutcher e Mark Ruffalo.
A partir de 2010, o cinema passou por reformulação e os filmes de super heróis se tornaram marcantes neste período, com a exatidão do universo Marvel e a busca dos estúdios para se igualarem ao sucesso estabelecido pela chamada casa das ideias, as comedias românticas perderam seu posto, mas ainda lutavam c=para conquistar seu momento no cinema, Filmes como “Amizade Colorida” e “Sexo sem Compromisso” chegaram para mostrar ao publico um lado mais audacioso, onde o sexo se tornava o principal protagonista. Embora não tenham obtido o sucesso esperado pelos estúdios, os filmes ainda conseguiram alavancar suas ideias.
Neste período, poucas comedias românticas se destacaram junto a crítica, e o gênero se tornava escasso, sendo dominado por fracassos de bilheterias e críticas. Alguns dos maiores destaques vieram com o aclamado “O Lado Bom da Vida”, estrelado pelos icônicos Bradley Copper e Jennifer Lawrence, que iam na contramão e trazia uma comedia mais voltada ao psicológico e lado familiar de seus personagens, tendo inclusive dado à Lawrence um Oscar de melhor atriz por sua atuação como a divertida e ousada Tiffany Maxwel. Assim como o feito pelo romântico e sensível “Como Eu Era Antes de Você”, que se tornou um fenômeno mundial, apresentando ao mundo o carisma da bela Emilia Clarke e do galã da atualidade Sam Claflin.
Com a decaída da qualidade e a coleção de fracassos que o cinema viu durante a segunda década dos anos 2000, os streamings aproveitaram a deixa e passaram a criar suas próprias comedias românticas que se tornaram verdadeiras perolas, umas das pioneiras neste quesito foi a Netflix, que aproveitou a oportunidade para conquistar o publico mais jovem com as adaptações literárias de obras infanto juvenis como “A Barraca do Beijo” e “Para Todos os Garotos que Eu Já Amei”, a Prime Vídeo não ficou para traz e apresentou diversos longas destinados aos jovens.
As mudanças também passaram a abrir o leque de oportunidades e visibilidades para uma nova integração ao público. Com o aumento de questões de igualdade entre gêneros e liberdade de expressão e direitos iguais para todos, o cinema abriu a oportunidade para que histórias LGBTQIA+ adentrarem o cinema e os streamings e contarem histórias de amor entre pessoas do mesmo gênero. Em 2018, “Com Amo, Simon”, se tornava o primeiro filme de um grande estúdio a apresentar uma comedia romântica sobre um jovem gay. Nos anos seguintes filmes como “Mais que Amigos” e “Vermelho, Branco e Sangue Azul” chegaram para tirar o gênero da zona de conforto e apresentar maior diversidade ao público.
Mas foi em 2023 que o cinema se viu dentro de uma nova reinvenção, com novas oportunidades e idealizações diferentes, onde as histórias inclusive focam mais nas questões de amizade e retratos familiares dos personagens, deixando o romance clichê em segundo plano. Dois filmes se destacaram neste quesito e elevaram a visibilidade das comedias românticas para um novo nível e um outro ponto de vista. Em “Que Horas eu te Pego”, comedia politicamente incorreta, estrelada pela estrela Jennifer Lawrence, conta a história de uma mulher que precisa seduzir um jovem introvertido para conseguir um carro novo, o filme tornou-se um sucesso moderado, conquistando críticas e elogios para a ousadia de Lawrence, que mesmo depois de tornar-se uma atriz consagrada ainda diverte o publico com seu lado cômico e descontraído. O grande sucesso mesmo veio no fim do último ano com a estreia de “Todos, Menos Você”, estrelado pela nova queridinha de Hollywood, Sydney Sweeney e pelo mais novo galã do cinema Glenn Powell. O longa narra a cômica aventura de dois jovens que não se suportam e para não estragarem o casamento de suas amigas decidem viver um romance fictício nas belíssimas paisagens Australianas, o longa se tornou um fenômeno, conquistando mais de 200 milhões em bilheteria e se tornando um dos filmes mais lucrativos de 2023.
Ainda que 2024 esteja apenas começando e ainda não saibamos o que o futuro nos reserva quando o assunto são comedias românticas, uma coisa é certo, o gênero está de volta com tudo, na ultima semana foram divulgadas as primeiras e ótimas impressões do longa “Uma Ideia de Você”, que estreia no próximo mês de maio, trazendo como protagonistas a ótima Anne Hathaway e um dos novos galãs da nova geração, o encantador Nicholas Galitzine e uma história que promete envolver o público e fazer todos se apaixonarem. Seja como for, é esperar para ver e aguardar que novos sucessos possam trazer de volta a visibilidade um dos melhores e mais amados gêneros que o cinema possui. E ainda que exista o cliché, e inegável não se envolver nas histórias e ficarmos marcados por frases como “Na minha opinião, a melhor coisa que você pode fazer é encontrar alguém que te ame exatamente pelo que você é. Bom humor, mau humor, feio, bonito, lindo, o que você quiser.”, extraído do aclamado “Juno”!
-- Formiga Nerd --